Sob as pressões inflexíveis e as dores da vida diária, Calvino viu a verdade e o conforto da soberania absoluta de Deus sobre todas as coisas e em todas as coisas. Todas as coisas não é uma frase descartável - nem para os apóstolos nem para Calvino. Todas as coisas significa que há uma vida inteira de trabalho a ser feito - e mais - para descobrir a glória do evangelho na Escritura e aplicá-la a todas as coisas. Calvino era 25 anos mais jovem que Lutero e a Reforma já fazia seu movimento inicial de mudança do mundo quando Calvino tornou-se adulto. Mas o triunfo emergente da revelação divina sobre a razão humana precisaria de uma vida inteira de investimento para
apenas começar a desenvolver as implicações - implicações para tudo. Calvino não agiu como um filósofo especulativo, aprendendo a partir de sua própria mente, mas como um teólogo bíblico, aprendendo a partir da revelação de Deus na Bíblia. Ele procurou viver sola Scriptura, não apenas se referir a ela, esforçando-se para dar lugar para todos os textos, inclusive os grandes, o texto todas as coisas. Ele acreditava que Deus "... faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade" (Ef 1.11) e que "... dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas” (Rm 11.36). No Livro que mudou todas as coisas, Calvino descobriu que, em Jesus,
foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (CI 1.16) e que, para aqueles que são de Cristo, ... todas as coisas cooperam para o bem" (Rm 8.28). O Deus da Escritura não é uma divindade tribal. Cada centímetro do universo é dele. A teologia totalmente abrangente de Calvino veio de textos grandes como esses e, para crer neles, ele teve de lê-los. Entender Deus em sua Palavra significa perceber que Deus está ligado a tudo e tudo está ligado a Deus. Foi ao perceber esta característica em Calvino que seu descendente espiritual, Abraham Kuyper, afirmaria, quase quatro séculos mais tarde, que não há um só centímetro quadrado em todo o universo sobre o qual o Cristo ressurreto não declare: "é meu!"
Na cruz de Cristo, como num magnificente teatro, a inestimável bondade de Deus é exibida diante do mundo todo. Na verdade, em todas as criaturas, elevadas ou inferiores, resplandece a glória de Deus, mas em nenhuma outra parte ela resplandeceu com mais brilho do que na cruz, na qual ocorreu uma extraordinária mudança de coisas, a condenação de todos os homens foi manifestada, o pecado foi destruído, a salvação foi restaurada para os homens; e, em resumo, o mundo inteiro foi renovado, e tudo foi restituído à boa ordem.
João Calvino
Comentário do Evangelho de João, 2.73.
"Se de alguma maneira os fiéis forem levados por todo vento de embuste, se de algum modo forem expostos à zombaria astuciosa dos ímpios, que sejam ensinados pela segura experiência da fé e saibam que nada é mais firme ou certo que o ensino da Escritura e sobre este fundamento eles devem descansar confiantemente."
João Calvino, Calvin's Commentaries: Commentary on first Peter, trad. W. Johnson (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1989), 219.
“Sem uma clara compreensão e esperança no poderoso, pessoal e intencional cuidado de Deus por nossa vida, a vida e a morte não tem propósito.”
Mas até mesmo nessa profunda tristeza ele conseguiu olhar para cima. Que Jesus me sustente também nesta pesada aflição, que certamente me venceria, se ele, que levanta o prostrado, fortalece o fraco e revigora o cansado, não tivesse estendido, do céu, sua mão para mim.
Fonte: João Calvino, Selected Works, orgs. J. Beveridge e J. Bonner, vol. 5 (Grand Rapids: Baker, 1983), 216.
Calvino declara:
"Se estivéssemos preparados para aprender com espírito sereno e acomodado, se faria patente, afinal, do próprio resultado, que assiste a Deus a melhor razão de seu propósito, seja que à paciência eduque os seus, seja que lhes corrija os depravados afetos e dome a lascívia, seja que os quebrante a negação própria, seja que os desperte da inércia; ou, em contrário, que prosterne aos orgulhosos, que estraçalhe a astúcia dos ímpios, que lhes dissipe as torvas maquinações."
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Se nossa mente estivesse sempre acomodada dessa maneira, de modo que pudéssemos manter a fé de que Deus, como nosso Pai celestial, é bom e age incessantemente para o nosso bem, então, sem dúvida, sempre saberíamos o que Calvino chama de "imensurável felicidade da mente piedosa". Mas o que acontece quando algo aparentemente tão terrível nos sucede que nossa fé começa a falhar? O que acontece quando parece que tudo, menos a bondade e a glória de Deus, está se manifestando em algum caso de pecado ou sofrimento - algum caso que nos deixa tão horrorizados que não podemos conceber como pode ser parte de um "plano divino maravilhoso que é adaptado a um fim definido e a um propósito adequado"?
Em sua época, Calvino tinha visto o rico, às vezes, privar o pobre de sua mobília e até mesmo de suas roupas. Ele não podia suportar grandes festas e roupas caras - "Jesus Cristo não era um alfaiate”, ele dizia - quando outros estavam passando fome e vestindo trapos. Ele queria que os ricos se vestis sem com simplicidade e gastassem o dinheiro que economizaram em novos negócios que pudessem gerar emprego para os pobres. Entretanto, essas mudanças tinham de vir do coração mudado. Tentativas de forçar a compaixão alimentam o ressentimento.
Fonte: Com Calvino no Teatro de Deus - (cap 4) O roteiro secular no teatro de Deus: Calvino sobre o significado Cristão da vida pública.
de Marvin Olasky