Lembro-me quando fazíamos gravatinhas na escola, tinha que recortar, pintar e levar para casa a fim de presentear nossos pais.
Neste período da minha vida, morava com meu avô e lembro que em todas as festividades relacionadas a pais e mães era pra ele que eu direcionava minhas homenagens.
Bem, eu sabia que meu avô não era meu pai, mas era tudo que eu tinha, e era perfeito, mas antes de falar sobre as qualidades do meu avô, cabe dizer que minha mãe tralhava em outra cidade, muito ficava sem tempo me ver e neste período da minha infância possuo bem mais registro que foi a minha vida ao lado do meu avô que com a minha mãe.
Meu pai, morreu antes de eu nascer, isso pode até parecer trágico em um primeiro momento, mas acredito que meu avô supriu majestosamente essa lacuna.
Ele era um homem extremamente trabalhador, arrumava fogões. Lembro-me das agulhas que ele usava para desentupir as bocas dos fogões, eu brincava com elas mesmo sendo advertido do perigo.
Meu avô não era dono de sua própria casa, era extremamente humilde e muitas vezes teve a energia elétrica cortada por falta de dinheiro para pagar, conta esta que em inúmeras situações era quitada pela minha mãe.
Contudo, não existe lembranças da falta de ter o que comer, pois ele sempre me supriu neste sentido, ainda que com a ajuda de alguns amigos e familiares.
Trabalhar e ser feliz pareciam as duas coisas que ele sabia fazer com melhor desenvoltura, ainda que eu tenha sido criado com certa liberdade (até demais para os padrões de hoje), lembro-me que as ruas quase que eram como uma extensão da minha casa, ok, sei que eram outros tempos.
Meu avô gostava de acordar cedo, muito cedo, por volta das 5 horas da manhã, me recordo das vezes que acompanhar ele nesse despertar matutino e ainda ser noite, e lá estava ele com seu chimarrão em mãos.
Essas coisas me foram fixadas desde a infância até meus 11 anos, quando ele morreu e a partir deste período pude conviver com outros homens, trabalhadores, desempresos, sérios, descompromissados e de certa forma, um pouco deles absorvi.
Tinha 12 anos quando fui morar com minha mãe e meu padrasto, lembro-me de uma mistura de sentimentos, tanto pela alegria de estar com meus irmãos como pela tristeza na vivência de problemas familiares bem chatos com relação à postura dos chefes da minha família. Contudo, um fator que eu chamava sempre muito atenção era a forma como levavam seus respectivos trabalhos a sério.
Não penso que devemos subestimar a capacidade de compreensão das crianças, aprendi observando muito e procurando fazer boas escolhas. Os exemplos maus e bons estão todos os dias diante de nós.
Hoje, casado a 10 anos, quando penso sobre meu futuro e em como eu devo me posicionar com relação a uma futura paternidade fico com as incertezas que não vivi ainda em minha vida.
Penso que realmente vai querer dar tudo para o meu filho(a), mas penso sobre as consequências que esta postura acarretará, uma vez que sou prova de que muitas vezes não ter bens, pode ser o fator preponderante para a busca daquilo que não tem.
Claro, que minha conversão ao cristianismo me fez rever muito dos meus conceitos sobre felicidade, amor e esperança, pois todas as lacunas que se comprometeram com pessoas e coisas foram tomadas pelo meu amor a Jesus Cristo.
Hoje posso afirmar com convicção que este, sem dúvidas, foi o grande salto na vida, na forma de ler o mundo usando os "óculos do evangelho".
Deus não me deu um pai em carne em osso para chamar de pai, mas me deu o seu filho para que através dele eu pudesse entender que o pai criador de todas as coisas, no fim das contas, sempre esteve comigo, cuidando para que nada me faltasse ou sobrasse.
Entendo que a medida de Deus para o cuidado comigo, foi na medida.
Espero que um dia, quando entender a paternidade, vivenciando-a, também poderia ter um pequeno vislumbre do que é esse perfeito amor no cuidado, um amor que de tudo em apenas medida e que nada nos deixa faltar, o amor de Deus por seus filhos.
Augusto Marques