São poucas as igrejas que conseguem ser efetivas na forma de se comunicar e levar a mensagem do evangelho do Reino de Deus na internet.
Entendendo as especificidades de cada plataforma para conseguir gerar engajamento e ter o devido alcance na sua mensagem, as “lives” vieram para ficar e absolutamente todo mundo está pondo a cara na internet para se comunicar e contar a sua história, todas as plataformas se adequaram rapidamente para fornecer a opção LIVE.
Os programas ao vivo são, ainda hoje, o que mantém as rádios operando com fôlego, seja na transmissão instantânea de notícias como na programação esportiva, por exemplo.
Já na internet, as LIVE’s, que equivalem aos programas ao vivo, não possuem o mesmo peso de exclusividade, pois podem ser salvas e passam a se tornar apenas vídeos gravados com uma má qualidade, onde o fator preponderante para ser relevante está única e exclusivamente na qualidade do conteúdo exibido.
O trabalho para uma boa transmissão na igreja exige certos conhecimentos técnicos que inúmeras congregações não dispõem atualmente, tomando, assim, decisões simplistas demais para ter o devido protagonismo que as redes sociais possibilitam.
Uma boa câmera, um bom áudio e um conteúdo que vá ao encontro de quem deseja ouvir e ver o que está sendo dito, pode ser um bom caminho, mas não existem fórmulas mágicas para alcançar pessoas, e cada perfil de igreja deverá desenvolver o seu Know-how, podendo observar e copiar boas iniciativas, mas sempre adaptando para a sua realidade.
Enquanto em mecanismos de busca o espectador vai atrás do que ele deseja consumir de conteúdo, nas redes sociais este processo é inverso, e o produtor de conteúdo pode encontrar o seu público específico.
A forma mais fácil para conseguir se fazer presente na internet acaba sendo o uso simplista do celular no modo live nas redes sociais. Algumas igrejas possuem estrutura para adequar-se tecnicamente, produzir e transmitir um bom conteúdo, mas esta não é a realidade da maioria das igrejas no Brasil, e essa atitude acarreta em alguns problemas contextuais, que mais adiante comentarei.
Primeiramente, vamos falar dos tipos de conteúdo para as redes sociais, pois não podemos simplesmente fazer delas uma extensão de alguns momentos do culto, como se isso pudesse ser suficiente, torcendo para que, quase de forma milagrosa, alguém veja e seja tocado pelo Espírito Santo e se converta (ainda que isso possa vir a acontecer). Ninguém quer apenas marcar presença de forma aleatória e despretensiosa, pois se esse for o intuito, então todas as estratégias de divulgação, por mais bem intencionadas e simplistas que sejam, deveriam ser descontinuadas, pois elas demandam tempo e esforço das pessoas envolvidas.
Uma estratégia difundida em 2015 pelo Google para criação de conteúdo no Youtube, apontava para três princípios que norteavam o produtor que quisesse ser mais efetivo nas suas postagens. O tripé de criação Hero (inspiração), Hub (entretenimento) e Help (educação) teve tanto sucesso que acabou sendo adaptado para as mais diversas plataformas e virou mantra entre os criativos, justamente porque nortearam a criação de conteúdo, conseguindo gerar conexão com o público e agregar valor às marcas.
A área de marketing digital é muito complexa e existem inúmeras ferramentas, conceitos e metodologias de trabalho. Alguns novos empregos surgiram em função da necessidade das empresas e instituições serem mais relevantes na internet.
Separei aqui alguns dos novos ofícios, como o social-mídia, web-design, analista de mídias sociais, Especialista em Search Engine Optimization (SEO), Redator/editor de conteúdo. Vejam a complexidade que é usar as redes sociais de forma relevante.
Modo live e seja o que Deus quiser
Leiamos o que Paulo diz em 1 Coríntios 3: “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis, porque ainda sois carnais”.
Quando lemos esta passagem percebemos que os irmãos de Corinto não ditavam o que era a pauta da pregação de Paulo, mas sim, que Paulo conseguia avaliar as necessidades da congregação, por conhecê-los, ele podia fazer a leitura correta do estado espiritual da igreja.
Em Hebreus 5 a partir do versículo 11 temos novamente a mesma situação, onde o apóstolo entende que não pode falar sobre o Sacerdócio de Cristo como devia, necessitando adaptar a sua mensagem.
D. Martyn Lloyd-Jones em seu livro Pregação e Pregadores diz: “O principal perigo com que se defronta o pregador, quanto a isso (desconhecer o público-alvo), consiste em supor que todos quantos se dizem crentes, ou que pensam ser crentes, ou membros de uma igreja, são necessariamente cristãos. Para mim, este é o mais fatal de todos os erros; por certo, também é o mais comum. Supõe-se que, se as pessoas são membros de igrejas, necessariamente são crentes. Isto é perigoso e errado, pelo seguinte motivo: se supusermos isso, nos inclinaremos, com base nessa suposição, a pregar, em todas as reuniões, de maneira apropriada aos crentes. Nossas mensagens sempre terão um tom didático, e o comentário e elemento evangelístico serão negligenciados, talvez quase totalmente.” [1]
Jesus Cristo foi duro diante da crescente hostilidade dos fariseus, escribas e seus seguidores quando fala em Mateus 13.13: “Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem.
Seus ouvintes não tinham o interesse de compreender o ensino de Jesus devido a dureza de seus corações.
Até aqui, vemos como saber identificar como o público-alvo molda a forma e o conteúdo da nossa mensagem.
Sendo assim, se esta dificuldade é real para quem já está inserido e falando dentro de um contexto de igreja na sua congregação, deveríamos ter um cuidado ainda maior com esta mensagem sendo disponibilizada de forma aleatória na internet, pois não sabemos a intenção ou o contexto da pessoa que está assistindo, se de forma assíncrona ou ao vivo, mas quase sempre sem se identificar.
O alerta para este modus operandi despreocupado de disponibilizar a mensagem do evangelho pode até mesmo vir a fomentar os “desigrejados” que não precisam dar satisfação de suas vidas para liderança alguma, ou ainda, os descontentes com suas igrejas que buscam na internet o alimento que julgam não obter em suas congregações locais.
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Desenho do autor |
“A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos”
Gostaria de poder apresentar uma boa solução para toda esta situação em que estamos inseridos, mas, como disse anteriormente, não existe um jeito fácil de fazer as coisas, entretanto, se pensarmos em algumas boas iniciativas, podemos melhorar a forma como a mensagem está sendo disponibilizada.
Em seu livro Contextualização — uma teologia do evangelho e cultura, de Bruce J. Nicholls, ele diz: “A contextualização, segundo alega-se, é a capacidade de responder de modo relevante ao evangelho dentro do cenário em que a própria pessoa se encontra. Não é simplesmente uma palavra da moda ou um lema, mas uma necessidade teológica exigida pela natureza encarnacional da Palavra.”
Cada plataforma tem o seu o seu valor distinto das demais, fazendo com que aquele determinado produtor de conteúdo opte por “embalar” a sua mensagem de acordo com o contexto em que ela vai ser exibida. O youtube favorece vídeos longos com mais de 10 minutos que conseguem reter o usuário frente à tela. Estratégia oposta possui o Instagram, com vídeos de até um minuto no feed ou 15 segundos nos stories, uma vez que o IGTV parece não ter conseguido fazer frente ao Youtube.
O twitter possui uma proposital limitação de caracteres para deixar tudo mal explicado e fomentar o debate, o tiktok se baseia em desafios e assim por diante. Cada uma dessas empresas tem uma estratégia bem definida para retenção do público, e, adaptar-se às regras é fundamental para ter seu conteúdo alcançado por milhares de pessoas.
A maioria das instituições têm grande dificuldade de comunicação com pessoas, pois pessoas gostam de interagir com pessoas, por esta razão, empresas gastam muito dinheiro contratando influencers digitais para promoção de suas marcas e produtos, uma vez que a proposta do estilo de vida (life style) destes influenciadores é o que faz com que seus seguidores se engajem em suas causas.
Uma boa estratégia é fomentar o conteúdo pessoalizado, em perfis de pastores, na liderança como um todo e até mesmo por parte dos membros de uma determinada congregação onde todos apontam para a igreja, ou então, na melhor das hipóteses, elas mesmas fazem o papel de promoção do evangelho de Jesus Cristo.
Quem segue um pastor, normalmente espera consumir dele conteúdo de valor para a sua vida espiritual e de alguma forma também ser conduzido para as coisas do Reino, mas no caso de um membro da igreja, a mensagem se torna mais palatável, pois para o receptor da mensagem, o evangelho pode vir das mais diversas formas, sem as obviedades pressupostas de quem se identifica com um título ou cargo eclesiástico.
Em seu livro Evangelização, J. Mack Stiles diz: “Numa cultura de evangelização, pessoas que amam Jesus trabalham juntas como instrumentos na grande sinfonia da obra de Deus. Nem sempre sabemos qual será a próxima partitura — o Espírito Santo é o orquestrador. No entanto, se estivermos focados nele e no seu direcionamento, faremos parte da obra dele na vida das pessoas. É muito fácil tocar para o público e não para o maestro. Lembre-se de que o Senhor é o nosso maestro. Seja intencional na evangelização: siga a liderança de Cristo. São muitas as possibilidades de nos distrairmos e sairmos do tom. No entanto, numa cultura madura de evangelização, as pessoas confiam que Deus fará algo maior do que veem com os olhos físicos.”, esta é a forma mais fácil e menos custosa para sermos efetivos na promoção do evangelho como igreja na internet, quando todos assumem esta responsabilidade para si.
Mas, se ainda assim queremos fazer transmissões ao vivo (live) de nossas mensagens, trago aqui algumas sugestões para que este conteúdo possa ser mais efetivo.
Uma ideia interessante seria disponibilizar dentro de um modelo de comunidade fechada, como por exemplo, uma live privada no youtube onde somente quem tem o link de acesso pode assistir, ou em um grupo fechado no Facebook. Desta forma, você pode dar ao pregador certa segurança para tocar em temas sensíveis àquela comunidade, fazendo com que a mensagem vá ao encontro das necessidades da igreja local e não se torne pueril em meio a tantas outras mensagens que de igual modo chamam atenção dos internautas, pois bem sabemos como é fácil se dispersar com o celular em mãos. Sendo assim, com acesso a um conteúdo exclusivo, a membresia pode aproveitar sabendo que aquela mensagem possui sentido e aplicação prática para a congregação local.
Uma ótima opção também é fazer um release do sermão, contendo os principais pontos, ou até mesmo adaptá-lo, deixando o clímax da sua mensagem para quem for assistir presencialmente, quem sabe até mesmo, pedir os dados como e-mail ou telefone, a fim de identificar a pessoa que está solicitando acesso ao material na íntegra. Desta forma você pode monitorá-la, sabendo melhor qual o interesse e objetivos dela.
A internet é um campo fértil para ser explorado pela igreja, temos mais de 2mil anos de excelente conteúdo histórico e cultural que precisa ser exposto, não podemos nos contentar que Deus receba só um pouquinho mais de glória neste mundo, nossa ambição em se tratando do Reino de Deus deve ser grande, devemos ser desejosos de fazer com que o nome de Jesus seja proclamado e receba o devido louvor, para isso, ao menos na internet, devemos ser mais astutos, pensar em conteúdos diversos que sejam assertivos e alcancem o objetivo proposto: exortar, consolar ou edificar.
E, se diante das circunstâncias nos faltar mão de obra para este trabalho, que venhamos a pedir por pessoas que, antes de qualquer qualidade técnica, amem Jesus e e sejam desejosas por ganhar almas.
“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens, Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis.” Colossenses 3. 23–24
Augusto Marques
[1] Pregação e Pregadores — página 137 (Editora Fiel 2008)