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A doutrina na qual Deus, ao mesmo tempo em que é uno, existe eternamente em três “pessoas*”, que geralmente recebem o nome de Pai, Filho e Espírito Santo. A própria palavra “Trindade” não aparece nas Escrituras. Em grego, parece ter sido utilizada primeiramente pelo bispo Teófilo de Antioquia, no século II. Contudo, os ingredientes fundamentais da doutrina se encontram nas Escrituras, na qual se considera que Jesus é digno de adoração e, no entanto ele não é o mesmo a quem ele se refere como “Pai”, e ele próprio, “Jesus”, promete o Espírito Consolador como “outro consolador”. Logo, pode-se dizer que o desenvolvimento da doutrina trinitária é simplesmente de esclarecimento e definição do que já estava implícito nas Escrituras.
Por outro lado, é importante recordar que normalmente as doutrinas não são somente o desenvolvimento de considerações puramente intelectuais, mas também uma tentativa de expressar a fé que a igreja experimenta na adoração. Sabemos que desde seus primeiros tempos os cristãos se reuniam no primeiro dia da semana — o dia da ressurreição do Senhor — para cantar hinos a Cristo como Deus. Também sabemos que os cristãos estavam convencidos de que o Espírito que morava neles era Deus. Logo, não surpreende que a reflexão teológica se movesse na direção de procurar esclarecer a relação entre esses três a quem a igreja experimentava na adoração e como, no entanto, essa adoração e a fé que se expressava nela continuava monoteísta.
(mais nos comentários)
Fonte: González, J. (2009). In J. C. Martinez (Org.), S. P. Brito (Trad.), Breve Dicionário de Teologia (1a edição, p. 322–325). São Paulo, SP: Hagnos.
Algumas das primeiras tentativas de expressar a relação entre esses três tomaram o caminho do que mais tarde se conheceu como modalismo ou sabelianismo*, posição que sustentava que o Pai Criador havia se convertido no Filho Redentor nos tempos da encarnação e, depois no Espírito Inspirador em Pentecostes. Esses três são, portanto, somente três rostos ou três “modos” pelos quais Deus se manifesta aos crentes. Essas doutrinas logo foram rechaçadas, porque, tanto em sua adoração como nas Escrituras, a igreja sabia de um Filho de Deus que é distinto do Pai e que também prometeu e enviou o Espírito. Quando Jesus caminhava na Terra, não se esgotava ali toda a divindade. Além disso, os cristãos rogavam ao Pai em nome do Filho e sob a direção do Espírito. Um tratado muito influente foi o escrito de Tertuliano (c. 155–c. 220) Contra Práxeas, no qual empregou terminologia legal e metafísica para chegar à conclusão de que Deus é “três pessoas em uma substância”. Mesmo que levasse algum tempo posteriormente, isso veio a ser a doutrina oficial da igreja, de modo que a fórmula de Tertuliano foi adotada como a expressão clássica da Trindade.
O que levou aos debates sérios sobre a Trindade, e posteriormente à formulação da própria doutrina, foi o surgimento do arianismo*, que sustentava que, mesmo que o Filho possa ser declarado divino, não é Deus no sentido estrito, porque não é eterno; na realidade é uma criatura. A isso o Concílio de Niceia (Primeiro Concílio Ecumênico, 325), respondeu com o credo que estabelecia claramente que o Filho é “Deus verdadeiro, do Deus verdadeiro, engendrado, não feito; da mesma substância [hommousion*] que o Pai”. Mesmo que a isso se seguissem amplos debates e se propusessem outras fórmulas (homoiusion*) e também se debatesse a divindade do Espírito (Macedônios*), ao chegar ao Concílio de Constantinopla (Segundo Concílio Ecumênico, 381), a controvérsia praticamente havia terminado. A fórmula final que a partir daí foi usada na igreja de fala latina era a que havia sido proposta antes por Tertuliano: “uma substância, três pessoas”. A Igreja Grega falava de “uma usia, três hipóstasis”. Mais tarde, haveria um renascer do arianismo quando os godos e outras tribos germânicas, que haviam se convertido ao cristianismo graças a obra de missionários arianos, invadiram a Europa ocidental.
Um princípio importante que surgiu durante a controvérsia foi o da circunsessão* ou perichoresis, que significa que as três pessoas estão de tal modo interpenetradas que na ação de cada uma delas as outras estão presentes. Logo, mesmo graças ao que os teólogos chamam de “apropriações*, é correto falar da encarnação* da Segunda Pessoa da Trindade”, também faz sentido em que toda a Trindade esteja presente em Jesus; ao mesmo tempo em que foi o Espírito quem desceu no Pentecostes, foi a divindade na pessoa do Espírito, que mora nos crentes.
No século IX, surgiu uma controvérsia em torno do termo Filioque*, que significa “e do Filho”. Isso havia sido acrescentado ao Credo Niceno no Ocidente, de modo que agora se declarava que o Espírito* Santo procede “do Pai e do Filho”. Os gregos protestaram contra essa interpretação no Credo, que também refletia uma visão um pouco diferente do lugar do Espírito na Trindade e, posteriormente, foi uma das questões que levaram ao cisma final entre o Ocidente e o Oriente e que ainda perdura.
Começando no século XVI e chegando a sua culminação no XIX, houve toda uma série de críticas contra a doutrina da Trindade, que diziam ser irracional e carente de pertinência para a vida dos crentes. Recentemente houve um despertar no interesse sobre a Trindade, que vários teólogos veem como paradigma para uma vida em comunidade e, também, como princípio que requer a redefinição da unicidade de Deus de forma que se evite a tendência do monoteísmo não trinitário, a postura de hierarquia de extrema autoridade e até a tirania.